A segurança das equipes que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus tem sido um preocupação constante. Em meio a pandemia, o termo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) está na pauta das instituições, dos profissionais e até mesmo da comunidade. São óculos de proteção, protetor facial, máscara cirúrgica, máscara N95, avental e luvas de procedimento, os EPIs de fundamental importância na proteção dos trabalhadores da saúde contra os possíveis riscos de contágio do COVID-19.
Para a consultora da Eficiência Hospitalista, a enfermeira Cassiana Prates, é fundamental que o sistema de saúde ofereça políticas que garantam a disponibilidade e o manejo adequado dos EPIs. “Nesse momento crítico que estamos vivenciando, o uso de EPIs é condição essencial e indispensável para os profissionais em todos os pontos do sistema de saúde”, afirma Cassiana.
A enfermeira também reforça que os cuidados no manuseio também são importantes, para evitar o desperdícios desses materiais, cuja escassez é iminente e preocupa os profissionais e gestores. De acordo com ela, “estratégias de capacitação precisam ser desenvolvidas nas organizações de saúde”. E ainda ressalta: “é importante que as informações sejam claras e não gerem dúvidas para os profissionais da linha de frente”.
Confira a entrevista!
Eficiência Hospitalista – Muito tem se falado em Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Porque eles são tão importantes nesse momento, dentro dos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)?
Cassiana Prates – EPI é todo dispositivo ou produto de uso individual a ser utilizado pelo profissional, que se destina a protegê-lo dos possíveis riscos que ameaçam a sua segurança e a sua saúde no trabalho. Nesse momento crítico que estamos vivenciando, o uso desses equipamentos é condição essencial e indispensável para os profissionais em todos os pontos do sistema de saúde, seja no hospital, na UPA, na ambulância, no consultório, na clínica e até mesmo no domicilio do paciente. Sua utilização adequada, além de garantir a segurança do profissional de saúde, minimiza o risco de transmissão do vírus entre pacientes e de contaminação do ambiente, superfícies e equipamentos.
EH – Quais são os EPIs obrigatórios à equipe de saúde na situação de suspeita ou infecção pelo novo coronavírus?
CP – Sabe-se, com o conhecimento disponível até o momento, que o novo coronavírus (SARSCoV-2) é transmitido pelo contato, principalmente por meio de gotículas respiratórias, mãos, objetos ou superfícies contaminadas, de forma semelhante com que outros patógenos respiratórios se espalham. Recomenda-se portanto, Precaução de Contato e Gotícula para os casos suspeitos e confirmados, adicionando a Precaução para Aerossóis durante a realização de procedimentos com geração de aerossol, como por exemplo: intubação ou aspiração traqueal, ventilação invasiva e não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da intubação, indução de escarro, coletas de amostras nasotraqueais. Em atenção a estas precauções, recomenda-se para assistência direta aos pacientes a higiene de mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica a 70%, óculos de proteção ou protetor facial, máscara cirúrgica, avental e luvas de procedimento. Nas situações que geram aerossóis, recomenda-se o uso de gorro e máscaras N95, FFP2, ou equivalente.
“Nesse momento crítico que estamos vivenciando, o uso de EPIs é condição essencial e indispensável para os profissionais em todos os pontos do sistema de saúde”
EH – Quais os cuidados que os profissionais devem ter ao manusear esses equipamentos?
CP – O manuseio adequado desses equipamentos é fundamental para garantir a segurança. Existe toda uma recomendação técnica e lógica, tanto para a colocação como para a retirada de cada um deles. Caso não seguida, pode acarretar em contaminação para o profissional, o ambiente, superfícies e, consequentemente, risco de transmissão cruzada do vírus para outros pacientes.
- Assista aqui ao vídeo produzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), direcionado aos profissionais da saúde, sobre as medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde.
EH – Há uma preocupação sobre uma possível falta de EPIs para atender a demanda. Como evitar o desperdício desses materiais?
CP – O risco de desabastecimento tem sido uma preocupação atual, pois a busca por esses recursos aumentou de forma expressiva no mundo inteiro e as indústrias por vezes não conseguem atender a essa demanda. Faz-se necessário o uso racional dos EPIs. Talvez por desconhecimento e medo, tanto profissionais quanto a população em geral podem utilizar de maneira inadequada os EPIs. A exemplo do uso das máscaras que, quando não indicadas, geram desperdício e criam uma falsa sensação de segurança, podendo levar o individuo a negligenciar outras medidas de proteção como a prática de higiene das mãos. Para garantir a disponibilidade dos EPIs, algumas condutas estão sendo recomendadas: agrupar tarefas assistenciais, limitar o número de visitantes e restringir o número de profissionais que entram em contato com o paciente. Ainda, estratégias como telessaúde e ferramentas virtuais, sempre que apropriado, podem ser utilizadas como uma forma de comunicação entre profissionais e pacientes.
“Talvez por desconhecimento e medo, tanto profissionais quanto a população em geral podem utilizar de maneira inadequada os EPIs”
EH – A higienização das mãos é fundamental no trato com o paciente. Quais são os momentos em que se deve fazer esse processo?
CP – Vale lembrar que a higiene de mãos com água e sabão ou antisséptico é tão eficaz quanto o uso de álcool gel. A prática de higiene de mãos é reconhecida como a medida mais importante no combate às infecções. Temos visto, durante essa pandemia, uma preocupação generalizada e uma adesão a essa prática jamais observada. A Organização Mundial de Saúde preconiza a higiene de mãos em cinco momentos: antes do contato com o paciente, antes da realização de procedimento asséptico, após risco de exposição a fluidos corporais, após contato com paciente e após contato com as áreas próximas ao paciente. É importante também que os profissionais não utilizem adornos como anéis, pulseiras e relógios e sigam a técnica correta.
Confira aqui o cartaz disponibilizado pela Anvisa sobre a forma correta de higiene das mãos.
EH – Como é possível organizar todo esse fluxo de informações e orientações para os profissionais?
CP – Esse é um grande desafio… a comunicação! Fazer com que as rotinas estabelecidas sejam disseminadas e seguidas em todos os níveis das organizações. Importante que as informações sejam claras e não gerem dúvidas para os profissionais da linha de frente. Nesse momento em que precisamos evitar aglomerações, estratégias de capacitação à distancia precisam ser desenvolvidas nas organizações de saúde. Cartazes informativos e folders são úteis para educar tanto profissionais quanto a comunidade. Boletins informativos com o número de casos, suspeitos e confirmados, atendidos na organização sensibilizam as equipes e sua divulgação interna deve ser estimulada.